Pe. Murah Rannier Peixoto Vaz[1]
OBS: Texto anteriormente publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, Nº 29, Goiânia Kelps, 2018, pp. 119-142.
INTRODUÇÃO
O presente artigo tem por objetivo resgatar a história da construção da Capela do “Morrinho São João”, situada em Catalão-GO, e, desenvolvida na última década do Séc. XIX e depois o desenvolvimento dos festejos de São João bem como a reconstrução da Capela na década de 30 do século seguinte. De tal modo, busca-se preencher algumas lacunas da história deste município.
1 - RICARDO PARANHOS: POETA DO “MORRINHO SÃO JOÃO”
Situado no alto de uma colina, a sudeste da cidade de Catalão, e atualmente margeado pela rodovia que dá acesso à cidade de Ipameri[2], o “Morro da Saudade”, “Colina dos Poetas”, ou “Morrinho do São João”, como é mais conhecido atualmente, ao longo dos anos tem sido cantado e declamado em prosa e verso por diversos poetas e autores catalanos. A velha Capela tem marcado gerações. Ricardo Paranhos talvez seja um dos mais antigos entusiastas e apaixonados por esse ambiente bucólico e aprazível que se tornou cartão postal de Catalão, um dos primeiros pontos a ser avistado quando se vem chegando a esta cidade e um dos últimos nas saudosas despedidas.
O poeta Ricardo Paranhos[3], era filho do Cel. Antônio da Silva Paranhos, ex-Senador goiano, e de Belisária Antônia da Costa Paranhos. Seu registro de batismo realizado na Paróquia Mãe de Deus, em Catalão, traz as seguintes informações:
Aos dezoito de Dezembro de mil oito centos (sic) e sessenta e seis, baptisei solemnemente e pus os Santos Óleos ao inocente Ricardo, nascido em vinte e dois de Novembro deste anno, filho legitimo do Coronel Antônio da Silva Paranhos e de sua mulher D. Belisária Antônia da Costa Paranhos; foram padrinhos José Augusto da Silva Paranhos e D. Francisca Elmira da Silva Paranhos. / Do que para constar fiz esse assento. O Vig.rio Cônego Luiz Antônio da Costa[4]
Nascido em Catalão em 22/11/1866 e falecido em 19/04/1941, na cidade de Corumbaíba, onde escolheu para seu “exílio” e residência no fim de sua vida devido às perseguições políticas que sua família sofreu em Catalão. De acordo com o texto de Nascimento (2014):
Ricardo Paranhos é o maior poeta goiano em todo o período literário que precede a aparição de Leo Lynce. Não foi sem razão que Malba Tahan abalou-se do Rio de Janeiro para Corumbaíba, a fim de conhecê-lo, na intimidade[5].
Ricardo Paranhos, ao compor suas poesias, volta e meia cita a Capelinha do Morro, como se pode ver nesses trechos de suas obras, como é o caso da poesia que apresenta-se a seguir, denominada “Borboletas azuis”[6]:
Quero, quando eu morrer, ser sepultado,
lá no cimo do monte,
ao pé da grande cruz defronte
da capelinha
onde me declaraste em tom de mágoa e dor,
que apesar de ser de todos execrado
o nosso amor,
tu me juravas que seria minha[7].
Na poesia “Despedida de Catalão”, de 06 de março de 1904 (Jornal Goyaz e Minas), a Capelinha volta a ser mencionada:
Lá no “Morro da Saudade”,
possa a nívea capelinha
onde às tardes revoando,
chilram bandos de andorinhas!
Foi no cimo lá do monte,
foi no adro da capela,
que jurou ser ela minha,
que jurei ser sempre dela,
vê-se o triste campo santo[8].
Em outra versão da mesma poesia, datada de 1910, traz algumas mudanças nesse verso:
E a ti, Morro da Saudade,
morro azul da capelinha,
onde sempre as tardes vinha
contemplar a soledade!...
Era aqui na branca ermida,
solitária sobre o monte,
à luz roxa do horizonte
que cismava em ti, querida[9]!
Na poesia “Minha Terra” volta a aparecer o mesmo local e é louvada a vista panorâmica que se tem dali:
Ao pé do lindo Morro da Saudade,
que fica apenas
a um quilômetro distante,
num fresco e extenso vale verdejante,
entre amenas
e esmeraldinas
colinas
estende-se a cidade.
(...) De que maravilhoso panorama
Não goza a vista, quando lá de cima
do monte, que é o mais belo adorno
dessa terra, se derrama
pela vastidão entorno[10]!
Belos e apaixonados versos redigidos, fé, histórias e romances ali vividos no entorno da pequena Capela. Mas quando foi construída a tão famosa Capela? Qual a sua origem, sua história? É o que essa pesquisa abordará e tentará tirar da poeira do esquecimento nomes, dados e datas.
2 - AS ORIGENS DA CAPELA: ALGUNS PERSONAGENS
O princípio de tudo se dá quase na virada do século XIX, na sua última década. Era Pároco de Catalão o, então, Cônego Francisco Ignácio de Souza, que anos mais tarde receberia ainda o título de Monsenhor. Este padre foi importante benemérito das irmãs agostinianas e principal financiador para a vinda das mesmas e também para a construção do Colégio Mãe de Deus a partir de suas próprias economias e da herança que recebeu de seus pais. Em sua homenagem, seu nome foi dado ao bairro Mons. Souza.
Mons. Souza
Filho legítimo de João Ignácio da Silveira e Francellina Cândida de Jesus[11], Francisco Ignácio de Souza nasceu na data de 22 de junho de 1850, em uma fazenda do Triângulo Mineiro, a cerca de 21km de Uberaba-MG, até aquele tempo território da Diocese de Goiás.
Quando Francisco nasceu sua mãe fez uma promessa[12] a Deus de que aquela criança nascida fraca e com problemas de saúde, caso “escapasse” da morte, se tornaria um sacerdote. Assim, tendo nascido no seio de uma família católica e de sincera devoção, desde a mais tenra infância o pequeno Francisco passou a admirar a figura do Sacerdote, mesmo sem saber do que se tratava tal ministério. Aos 17 anos, seus pais o enviam para estudar no Colégio de Campo Belo, administrado pelos Padres Lazaristas[13]. Na mesma época havia estourado a Guerra do Paraguai, e o fato de estar estudando o livrou de ter sido convocado. Entretanto, o desejo de ser Padre era sincero e dali Francisco começou uma longa jornada de formação, passando por vários seminários, em Estados diferentes, até atingir sua meta.
Coincidindo com seu dia natalício, foi ordenado presbítero, na data de 22 de junho de 1879[14], aos 29 anos. Porém, levou um tempo até que retornasse à sua Diocese de origem, nesse meio tempo, atuou como professor em um colégio católico em Itu-SP. Ao voltar para a Diocese de Goiás, no final de 1880, a pedido de Dom Cláudio Ponce de Leão começou a dar aulas no Seminário localizado em Vila Boa, antiga Capital de Goiás, e essa missão seria desempenhada durante onze anos[15]. Nesse período na Capital, o Padre Souza tornou-se Capelão do 20º Batalhão de Infantaria.
Com a chegada do novo Bispo, Dom Eduardo Duarte Silva, em 28 de setembro de 1891, o Bispo tentou organizar o Santuário do Divino Pai Eterno da Santíssima Trindade do Barro Preto, atual cidade de Trindade-GO, para isso resolveu nomear o Padre Souza como Pároco Encomendado de Campinas e diretor da Romaria, por provisão de 5 de outubro[16]. Nessa Paróquia, ele faria grandes obras sociais e ficaria à sua frente por quatro anos, até a chegada dos Padres redentoristas que o sucederam naquele local.
Recebeu as honras de Cônego no dia 27 de janeiro de 1895. No início do segundo semestre daquele mesmo ano, foi provisionado Padre Cooperador de Catalão, auxiliando o Pároco, o Côn. Luiz Antônio da Costa. Entretanto, pouco depois de sua chegada, o Pároco faleceu na data de 23 de setembro, em meio a uma viagem à cidade de Paracatu. No ano seguinte, também faleceu o Pároco de Entre-Rios, atual cidade de Ipameri, e o Côn. Souza também foi provisionado Pároco daquela localidade, em 19 de outubro de 1896[17]. Esse período do paroquiato do Côn. Souza foi um momento de profunda agitação política e banhos de sangue entre os grupos partidários em Catalão[18], além de ser pouco após a proclamação da República e ainda haver um ranço entre alguns grupos políticos anticlericais para com a Igreja Católica e seus ministros. Côn. Souza, como testemunha ocular dos fatos, deixou em sua autobiografia uma descrição desses conflitos com alguns pontos ainda inéditos e, tão importante e esclarecedora, que transcrevemos abaixo. Segundo ele:
Encontrei uma situação dificílima. Todos os paroquianos estavam envolvidos nas intrigas da política. Correu muito sangue. Durante três anos empreguei todos os meios para harmonizar os dois partidos e quando percebi que era fácil fazer o congraçamento, suspeitando a minha pouca autoridade e influência, supliquei ao Senhor Bispo D. Eduardo que, de volta de Paracatú para Uberaba, tivesse a bondade de passar por Catalão a fim de me prestar esse relevante serviço de caridade.
Nessa ocasião estava presente um dos mandões, o outro ausente no Rio de sua saúde abalada pelo tiro que tinha recebido há meses. O Sr. Bispo de boa vontade atendeu a meu pedido. Em chegando percebeu a boa disposição do povo; convocou-os sem distinção de partidos na respectiva Igreja; depois de uma bela alocução relativa a questão pediu a todos o esquecimento e o perdão do passado e fê-los prometer viverem doravante em verdadeira paz e harmonia social conservando cada um a sua convicção política, e não contente com essa simples promessa fê-los jurar perante o crucifixo e beijá-lo um por um como penhor desse compromisso de sólida conciliação.
Poucos meses de tranquilidade se passaram. Parecia que tudo ia bem. Aproximaram-se as eleições federais. Apareceu inesperadamente o outro mandão que se restabelecia no Rio, afim de assistir as ditas eleições. Pressenti que surgiram de novo as rixas, as intrigas políticas e ódio inveterado que já se supunha extinto.
E, com efeito, pela cabala política se prognosticava o incêndio da política. Sendo vencedor o mandão antigo, a intriga fervia e medrava por toda a parte. Os jagunços que auferem dela sua subsistência e lucro, estimulavam na com suas denúncias caluniosa. Pelos boatos chegados aos ouvidos do antagonista vencido que ia ser assassinado em sua própria casa, julgou este conveniente prevenir-se colocando em sua casa dois jagunços. Estes aproveitaram o ensejo e assassinaram em plena rua o rival de seu patrão.
Nos dias seguintes passou o terror pelas ruas de Catalão. A consequência foi o bárbaro assassinato do outro chefe depois de peripécias muito tristes que poderiam encher um livro[19].
Percebendo a necessidade de uma nova Capela na cidade de Catalão, Côn. Souza obteve a provisão do Bispo para levar adiante esse projeto na data de 19 de março de 1897 e começou as obras para a construção de uma Capela em honra de N. Sra. d’Abadia na praça chamada “Eugênio Jardim”. A tradição popular faz memória de que, não respeitando um dia santo de guarda, os funcionários da obra continuaram a trabalhar e tendo acontecido um acidente com uma fatalidade gerou-se uma crendice de mau agouro. Sobre esse fato, o Côn. Trindade, autor do livro Lugares e Pessoas – Subsídios Eclesiásticos para a história de Goiás, relata em uma nota datilografada: “os operários dessa capela não respeitando um dia santo, um veio a morrer vítima de uma queda dos andaimes da obra e outro apavorido afastou e não mais quis voltar a trabalhar sob o protesto de que N. Senhora não queria[20]”.
No ano seguinte, em 1898, foram tomadas as primeiras iniciativas em prol da construção daquela que seria o cartão postal da cidade de Catalão: a Capela do “Morrinho São João[21]”. Contudo, a comissão que iniciou a construção, de início, não contou com o apoio do Pároco, devido faltar os requisitos exigidos pelo direito canônico, como, por exemplo: a área patrimonial e a licença do Bispo Diocesano, além da inconveniência de se construírem duas Capelas ao mesmo tempo, pois ainda se tentava construir a Capela de N. Sra d’Abadia, que estava apenas no começo.
Entretanto, a contragosto do Pároco, a comissão contou com o apoio da Intendência Municipal, tendo à sua frente o Intendente João de Cerqueira Netto, e deram continuidade às obras. Segundo Maria das Dores Campos: “A primeira igreja construída no morro, foi por iniciativa de três Joãos: João de Cerqueira Netto, João Patriarca, e João Antônio de Macedo, no início deste século[22]”. Ainda de acordo com a historiadora catalana: “Um outro João, enciumado por não ter sido convidado para a construção da capela, tomou a iniciativa de colocar três cruzes no morro oposto, à sudeste, que tomou ‘o nome de morro das três cruzes’” [23]. Contudo, o Côn. Trindade aponta a data exata do princípio das atividades em prol da construção da Capela e cita os nomes dos elementos envolvidos na sua construção, no que se confirmam a presença de dois dos Joãos apontados por Maria das Dores Campos e aparecem outros nomes:
Teve seus começos em 19 de abril de 1898, conforme ata no livro próprio dessa Capela. / Foram os seus promotores os seguintes senhores: Antônio Gonçalves da Silva, Tenente Coronel João de Cerqueira Netto, Major Alfredo Augusto da Silveira Paranhos, Tenente João Patriarcha, Manoel Faustino de Oliveira, Francisco da Silva Ribeiro. Primeira diretoria: Presidente: Tte. Cel. João de Cerqueira Netto, Thesoureiro: Antônio Gonçalves da Silva; Secretário: Francisco da Silva Ribeiro; Membros efetivos: Major Alfredo Augusto da Silveira Paranhos; Tte. João Patriarcha, Manoel Faustino[24].
Segundo o Côn. Trindade, em 9 de maio de 1898, com a presença de muitas pessoas, foi levantado o primeiro esteio da Capela em honra a São João Batista. Enquanto elementos do povo levantavam o esteio, tocava a banda de música do Maestro Joaquim Rodrigues Lopes, animando aquele momento. Como o Côn. Souza não esteve presente, quem fez a oração foi o Magistrado Dr. Manoel Dias Prates. A escolha do santo padroeiro influencia-se pelo nome dos idealizadores da construção da Capela, mas também se fundamenta na devoção a São João Batista e a forte influência da tradição portuguesa das festas juninas que em Goiás também tinha deixado sua marca no povo, na cultura e na religiosidade popular. Maria das Dores Campos diz que: “A festa de São João, celebrada em 24 de junho consistia num acontecimento todo especial para esta região, reunindo catalanos que residiam fora e não perdiam tão pitoresca e romântica festa” [25].
Desse modo, sem o apoio da Intendência Municipal e das lideranças locais, a construção da Capela de N. Sra. d’Abadia acabou não sendo concluída e, segundo o Côn. Trindade, só existe algo acerca dela “por escrito em atas e na consciência dos bons”.
3 - SANANDO CONTROVÉRSIAS
Mas de que adianta uma Capela sem a Santa Missa, sem um Padre? Os construtores da Capela correram atrás de regularizar aquela situação e suas pendências. Tendo o Côn. Souza conseguido pacificar os ânimos, como constam nos registros, em 20 de fevereiro de 1899, o Capitão José Bueno de Moraes doou o terreno onde se encontrava a Capela, além das adjacências do entorno do morro, e passou a escritura do Patrimônio da Capela como orientavam as normas da Igreja. Com a regularização, em 18 de junho, foi passada uma provisão assinada pelo Vigário Geral da Diocese de Goiás, o Côn. Ignácio Xavier da Silva, e pelo Pároco, autorizando a criação da nova Capela de São João Batista. Todavia, a Capela só seria abençoada no ano seguinte.
A escritura que regularizou as pendências contém o seguinte teor:
Compareceram partes entre si contratadas de, uma como doador o Capitão José Bueno de Moraes e de outra como doado São João Baptista, representado pelo Reverendo Cônego Francisco Ignácio de Souza, moradores neste Distrito (...), em presença das quais por ele doador foi dito e declarado, que possuindo UMA PARTE DE TERRAS de culturas e campos dividida, na Fazenda do Ribeirão, limitrophe com o Patrimônio desta cidade, da qual faz doação para patrimônio da Igreja de São João Baptista, o terreno seguinte: Principia do Patrimônio dessa cidade, por uma estrada que segue desta cidade flardeando o Morro de São João e que vai ter a Fazenda do Tenente Coronel João da Cerqueira Netto, seguindo pela estrada até uma outra estrada que atravessa e que segue para o Porto do Pedrão; daí, voltando a direita por esta estrada do Pedrão até outra que atravessa e que da Cidade vai ter a casa do doador; daí, voltando outra vez a direita pela estrada abaixo até dividir com o Patrimônio desta cidade; ficando de hora em diante pertencendo o referido terreno, para o fim acima dito, a Igreja de São João Baptista; podendo dispor do mesmo terreno pela forma, que julgar necessária e a benefício da Igreja de São João Baptista[26].
Morro da Saudade. Igrejinha de São João, meados da década de 30. |
Como pode se vislumbrar ao longo dos atritos, durante os seus quatro anos de permanência à frente da Paróquia de Catalão, o Côn. Souza enfrentou e tentou apaziguar momentos tensos de violência e divisão política da população daquele município que, naquele tempo, era notoriamente conhecido pela violência e pela chamada “pistolagem”, havendo rivalidades, perseguições e, volta e meia, assassinatos de chefes políticos de ambos os lados. Todavia, o Côn. Souza, sentindo-se impotente e incapaz de solucionar essa situação, como ele mesmo diz: “suspeitando a minha pouca autoridade e influência ”, por meio de cartas, entrou, então, em contato com Dom Eduardo, que se encontrava em Roma, para que conseguisse uma congregação religiosa para cuidar daquela Paróquia e pacificar os ânimos do povo.
Com o parecer favorável da Congregação agostiniana foram enviados cinco religiosos, que chegaram a Catalão em 2 de julho de 1899, os quais tomaram posse quatro dias depois. Em 20 de agosto, o Côn. Souza deixou a Paróquia.
Pe. Alfredo Carrocera |
Em 1º de junho de 1900, houve uma bela procissão com a imagem de São João Batista, da Matriz até a Capela no Morro, e nesta data a Capela de São João Batista foi abençoada pelo Padre agostiniano espanhol Alfredo Carrocera Valdés (OSA). A partir de então, passou-se a celebrar as missas por ali. Assim começou a história deste lugar e toda a tradição que o rodeia. Maria das Dores Campos afirma sobre a devoção:
No dia da festa havia a tradicional alvorada com morteiros, foguetes, música e participação de muita gente com a missa das 9 horas lá na capela, quando se realizavam muitos casamentos e batizados. Antes do almoço a tiragem de esmolas; às 14 horas café e dança na casa dos festeiros e à tarde a procissão ao redor do morro, cuja estrada, todos os anos retocada, facilitava o trajeto. Os senhores disputavam o privilégio de carregar o andor de São João Batista, havendo anjos, virgens, cumprição (sic) de promessas, subindo morro de joelhos e a distribuição dos cobiçados cartuchos de amêndoas pelos festeiros. Esta festa consiste um acontecimento importante do ano, em Catalão, um folclore dadas peculiares com que era celebrada e a participação em massa da população[27].
Ilustração da Capela do Morrinho São João no ano de 1910, ainda no seu estilo colonial. |
4 - NOVOS TEMPOS, NOVOS ARES: RECONSTRUÇÃO DA CAPELA
Quase quarenta anos após a construção da Capela, a antiga Capela construída em estilo colonial, feita em adobe, taipa e esteios de aroeira, encontrava-se degradada pelos anos e, no espírito da época, foi demolida pelos padres agostinianos para ser reconstruída. Segundo consta, um recibo foi emitido nos seguintes termos:
Pago a Basílio pela demolição da Capela de São João do Morro a quantia de duzentos e doze mil réis (212$000).
20 de março de 1939 / A comissão (Nota Nº 4)[28]
O Pároco da época era o Padre agostiniano espanhol Ramon Peres, nomeado Pároco em 5 de novembro de 1938, e que projetou e idealizou a reconstrução da Capela com uma nova arquitetura, a mesma que conserva até os dias atuais. Entretanto, poucos meses depois, no ano seguinte, foi nomeado outro pároco, o Pe. Epifânio Ibanez provisionado Pároco de Catalão em 29 de março de 1939[29] e seria ele a concluir a Capela e ganhar os louros. A respeito disso, o Pe. Ramon Peres escreve ao Bispo, Dom Emmanuel, queixando-se e manifestando sua decepção:
Todo Catalão sabe que se tem Capela do Morro é devido à mim que derrubei a velha e consegui arrumar 11 contos, custando todo ela 20, de forma que quando chegou aqui o Pe. [Padre] tudo estava em marcha, de modo que não teve de pagar os serventes e pedreiros, pois tudo estava funcionando muito antes de vir ele. Bem, sendo isto assim, teve coragem de pôr uma chapa dentro da Capela e colocar-se ele juntamente com a comissão por mim nomeada e que fez tudo, e o meu nome nem siquer (sic) aparece para nada. Justo que ele como Vigário apareça o primeiro, mas a justiça pede que o meu nome fosse em segundo lugar[30].
O projeto de construção da nova Capela foi aprovado pelo Pe. José Galbusera, Secretário do Bispado, em 24 de abril de 1939.
Planta da Igreja de São João Batista de Catalão. |
Antes do término da obra, o então Arcebispo de Goiás, Dom Emanuel Gomes de Oliveira veio fazer uma Visita Pastoral à Paróquia e aproveitou para ver as obras da Capela. O livro tombo da Paróquia Mãe de Deus traz mais dados sobre esta visita:
A dois de maio sua Excia. comunicou desejar vir em caráter particular visitar esta Paróquia. Aqui foi recebido no dia oito. Dia nove visitou a Capela do Morro de São João, tecendo elogios pela construção da mesma (p. 43).
Com o empenho dos padres agostinianos e o apoio da população, no mês de junho de 1939 já estava pronta e celebrou-se a novena e festa em louvor a São João e também a primeira Missa dentro da nova Capela em um altar provisório.
No dia quinze demos início às novenas em louvor de São João do Morro da Saudade. As cinco horas da tarde imponente procissão acompanhou a imagem do glorioso Precursor, desde a Matriz até ao Morro. Recolocada a imagem no altar provisório da nova Capela, tiveram início as novenas que durante os nove dias estiveram muito concorridas. No dia 24 foi celebrada a primeira missa na nova Capela pelo Rvmo. P. Vigário (p. 44).
Igreja do Morrinho São João após a sua reconstrução. |
No relatório paroquial do final daquele ano, Pe. Ângelo Cosgaya, recém empossado como Pároco, ao destacar os principais momentos da Paróquia, ressaltou: “Merece especial menção a inauguração da Capella de São João Baptista, no Morro da Saudade, reedificada neste mesmo ano” (p. 46). No ano seguinte, os festejos de São João foram ainda mais concorridos. Assim relatou o novo Pároco:
E neste mês [de junho], com uma solenidade nunca vista e com afluência de fiéis que superou a da inauguração da Capela de S. João, celebrou-se a Novena e Festa de São João Batista na sua própria Capela do Morro. Administrando-se por primeira vez nesta festa e na Capela o Santo Chrisma que S. Excia. Revma., D. Emmanuel Gomes de Oliveira, delegou para tal fim o M. R. Pe. Teodoro Estalayo. D.D. Comissário Provincial dos Padres Agostinianos.
Ano a ano, os párocos trazem alguns dados sobre os tradicionais festejos de São João Batista na Capela do morro, como ocorre em 1943 quando o Pe. Rodolfo Ferreira da Cunha, padre diocesano que assumiu a Paróquia após a saída dos agostinianos, destaca a honestidade e o zelo dos festeiros:
Realizou-se com toda a solenidade a novena e procissão de S. João Batista, na Capela do Morro da Saudade. Os festeiros se desempenharam perfeitamente, não só liquidando todas as despesas da festa, como pagando 700 cruzeiros pela conclusão de um novo altar e ainda entregaram um saldo de 2.650 cruzeiros, com que foram comprados todos os ornamentos para a Capela: uma cômoda e 6 bancos, faltando apenas o missal, que não se pode obter antes do fim da guerra. Retifico: o saldo 2.565 cruzeiros. Praza a Deus que os futuros festeiros continuem a dotar a Capela de ornamentações necessárias e conveniente, por exemplo, um estandarte para as procissões, mais jarros para flores e outros ornatos indispensáveis (p. 65-v).
Mesmo após a chegada dos frades franciscanos[31], em 1944, permaneceu por um tempo o movimento religioso na festa de São João Batista:
De 15 a 24 de junho, na matriz, a festa de São João Batista. O festeiro era Sr. Maurilho Neto Carneiro, e a festeira, Sra. Felicidade Neto Gonçalves. De costume, a festa foi realizada no morro onde fica a capela de São João Batista. Reza todas as noites na Capela. Depois o leilão, no coreto em frente da capela. Bom movimento. Frei Paulo Seibert, o Comissários Provincial, estava na cidade nestes dias e ia a capela. Missa do encerramento na capela, e procissão em volta do morro na véspera (p. 68-v).
No ano de 1950, a renda da festa de São João tinha algumas metas: “Dia 15 iniciamos a Festa de São João Batista em benefício da Matriz e da Escola São Vicente de Paulo. Foi realizada a importância, depois das despesas, de vinte e três mil cruzeiros” (p. 84).
Infelizmente, o choque cultural e a falta de inculturação pôs a perder tão tradicional festividade. Maria das Dores Campos faz uma análise das causas do declínio da tradicional festa:
(...) chegam os padres norte-americanos da congregação Franciscana para substituir os antigos padres espanhóis, da congregação Agostiniana. Estes vindos de um país onde a religião dominante é o protestantismo e a católica não tem direito aos atos públicos e populares, estranharam tanta popularidade desta festa religiosa, não viram a piedosa devoção de todos e nem compreenderam a comovente alegria em festejar São João Batista, um santo tão querido nessa cidade. /Por isto, cortaram terminantemente esta festa, assim como as comemorações populares de todas as festas religiosas. Este ato dos recém-chegados franciscanos chocou profundamente a gente catalana a ponto de muitos se revoltarem lastimando a saída dos agostinianos que já se achavam integrados aos nossos costumes. / Ninguém se se conformava com a proibição de se festejar São João com tanta popularidade e durante anos os catalanos lutaram contra esta atitude em considerar profana a devoção piedosa dedicada a São João Batista. / Assim, morreu a tradicional e tão querida festa e o morro da Saudade, tornou-se mais saudoso e solitário na quietude bucólica das tardes juninas. Uns 10 anos depois, Frei Inácio Donaughue, um norte-americano franciscano que teve a intuição de compreender a religiosidade de coração de nossa gente, tentou revivê-la, mas, apesar dos esforços feitos, não conseguiu[32].
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tempo passa e já se foram 120 anos do lançamento do primeiro esteio da antiga Capela. Hoje, um pouco abaixo da Capela existe o bairro São João e lá surgiu um centro comunitário com o mesmo nome, onde por muitos anos se reuniu o antigo grupo de jovens “JOPA” e onde hoje é a atual Capela com o orago também dedicado à São João. O comércio catalano também absorveu a força da devoção e aqui e acolá existem os mais variados tipos de comércios com a mesma nomenclatura.
Conforme citava em uma de suas poesias, Ricardo Paranhos pedia para ser sepultado ao lado da Capela, no que o seu pedido foi atendido. Tempos depois de ter falecido em Corumbaíba, os restos mortais do poeta “exilado” foram transladados e finalmente sepultados ao lado da velha Capela para enfim descansar à sua sombra.
Passam-se os anos, talvez hoje não se mantenha o mesmo entusiasmo religioso com a antiga e tradicional festa naquele local, mas continua a devoção em todo o povo catalano e dentro de seu território e permanece um imenso carinho para com a Capelinha do Morro, patrimônio material e imaterial, patrimônio religioso e cultural deste município que nos remete às suas origens, à uma herança de seus antepassados, integradora e atual, que lança-nos em uma busca das raízes, mas que faz-nos olhar para o tempo hodierno e também refletir sobre o que virá.
Trecho da poesia da despedida de Catalão, de Ricardo Paranhos. |
Queira Deus, continue a velha Capela a ser um sinal de esperança e ser a sentinela avançada que marca a religiosidade e fé do povo catalano e que é para todos nós cartão postal e sala de visitas desta cidade.
REFERÊNCIAS
1 - BIBLIOGRAFIA
CAMPOS, Maria das Dores. Catalão: Estudo Histórico e Geográfico. Goiânia: Tipografia e Editora Bandeirante, 1976.
NASCIMENTO, Raymundo Moreira. Ricardo Paranhos, poeta e cronista a ser descoberto e valorizado. In: <http://www.dm.com.br/opiniao/2017/04/ricardo-paranhos-poeta-e-cronista-a-ser-descoberto-e-valorizado.html>, Acesso em 01 de abril de 2019.
PARANHOS, Ricardo. Obras Completas de Ricardo Paranhos. Goiânia: Gráfica e Editora Cerne, 1972.
SANT’ANNA, Ivan. Herança de Sangue – Um Faroeste Brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
2 - MANUSCRITOS E PERÍODICOS DE ARQUIVOS PESQUISADOS
A - IPEHBC - Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central.
Livro 41, Tombamento das Paróquias – 1920.
Livro 47, Atas, autos de posse, termos e todos os cadastros pertencentes à Freguezia do Vai-Vem – 1847-1909.
Livro 52, Posse do Clero, 1869-1895.
SILVA, Côn. José Trindade da Fonseca e. Documentos arquivados no IPEHBC – Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central.
SOUZA. Mons. Francisco Ignácio de. Memórias do Mons. Souza, publicadas após a sua morte no Jornal “Santuário de Trindade”. Isso se deu de forma parcelada, no decorrer de vários meses, iniciando em 15 de dezembro de 1923 e indo até 1º de março de 1924. Coleção de jornais arquivados no IPEHBC – Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central.
B - Paróquia Mãe de Deus.
Escritura Pública da Capela do Morro São João. Livro 3-C, Nº 1.447, fls. 11 do Registro de Imóveis Local. Arquivo da Paróquia Mãe de Deus.
Livro de Batizados da Paróquia Mãe de Deus, 1869-1874.
Livro Tombo da Paróquia Mãe Deus.
Projeto arquitetônico da nova Capela de São João.
3 - IMAGENS
Museu Cornélio Ramos.
Paróquia Mãe de Deus.
Colégio Mãe de Deus.
PALACIOS, Pe. Pelayo Moreno. Edição Comemorativa “100 anos de presença no Brasil” - Revista da Vice-Província Agostiniana do Santíssimo Nome de Jesus do Brasil, São Paulo: Margraf, 1999.
[1] Padre da Diocese de Ipameri, atualmente pároco de Cumari e Anhanguera-GO. Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, da Academia Catalana de Letras e do Comitê Goiano da Cidadania em Defesa da Vida,
[2] A rodovia cortou parte da encosta do morro, invadindo o terreno pertencente à Paróquia Mãe de Deus sem qualquer indenização.
[3] Ricardo Paranhos foi aluno do Padre francês Raimundo Henrique des Genettes em seu Colégio N. Senhor do Bonfim em Entre-Rios (Ipameri) e mais tarde em Paracatú-MG, quando o colégio migrou para lá. Em 1884, com apenas 18 anos, foi nomeado capitão da Guarda Nacional. Seguindo os passos políticos de seu pai, foi eleito Intendente Municipal de Catalão, deputado pela Assembleia Constituinte Goiana e mais tarde Senador. Ao mesmo passo que exerceu importantes cargos políticos, foi um literato de vasta obra poética, contos e crônicas. Foi também um dos 21 membros fundadores da Academia Goiana de Letras.
[4] Livro de Batizados da Paróquia Mãe de Deus, 1869-1874, p. 94.
[5] NASCIMENTO, Raymundo Moreira. Ricardo Paranhos, poeta e cronista a ser descoberto e valorizado. In: <http://www.dm.com.br/opiniao/2017/04/ricardo-paranhos-poeta-e-cronista-a-ser-descoberto-e-valorizado.html>, [Consultado em 01-04-2019].
[6] PARANHOS, Ricardo. Obras Completas de Ricardo Paranhos. Goiânia: Gráfica e Editora Cerne, 1972.
[7] PARANHOS, 1972, p. 22.
[8] Id, ibid, p. 22.
[9] PARANHOS, 1972, p. 21.
[10] Id, ibid, p. 33.
[11] Cf. L. 52 – Posse do Clero, 1869-1895, p. 7-v. Arquivo do IPEHBC.
[12] Cf. SOUZA, Monsenhor Francisco Ignácio de. Memórias de Monsenhor Souza. In: Santuário de Trindade, Nº 39, 15/12/1923, p.3. Arquivo do IPEHBC.
[13] Id, ibid, Nº 40, 29/12/1923, p.3. Arquivo do IPEHBC.
[14] L. 52 – Posse do Clero - 1869-1895, p. 7-v. Arquivo do IPEHBC.
[15] Cf. SOUZA, Monsenhor Francisco Ignácio de. Memórias de Monsenhor Souza. In: Santuário de Trindade, Nº 43, 19/01/1924, p. 4. Arquivo do IPEHBC.
[16] Cf. L. 41, Tombamento das Paróquias – 1920, p. 27-v.
[17] L. 47, Atas, autos de posse, termos e todos os cadastros pertencentes à Freguezia do Vai-Vem – 1847-1909, p. 77-v. Arquivo do IPEHBC.
[18] Existia uma rixa entre os grupos políticos na cidade de Catalão, dividindo de um lado as famílias Paranhos e Sampaio, chamados de “papo roxo” devido a empunhadura de seus revólveres, e de outro as famílias Ayres, Andrade e Cunha, “chamados de papo amarelo” pelo mesmo motivo, bem como os apoiadores de cada lado. Com a proclamação da República, em 1889, o Coronel Antônio da Silva Paranhos (irmão de José Maria da Silva Paranhos, o Barão do Rio Branco), até então eleito por duas vezes como deputado estadual, acabou ampliando o seu poder político, pois era do Partido Liberal que apoiava o fim da monarquia. Com o advento da República, o presidente da Província era também do Partido Liberal e, logo em seguida, o Cel. Paranhos foi eleito Senador da República. Entretanto, com o crescimento de seu prestígio e de seu poder, bem como o de seu grupo político, entre 1892 e 1894 foram criadas várias querelas e assassinatos entre os grupos políticos. As contratações de pistoleiros e de jagunços, realizações de tocaias e assassinatos em plena luz do dia eram coisa comum. Entre outros assassinatos desse período, em 30/11/1897, o próprio Senador Paranhos foi assassinado e, no ano seguinte, em 26/02, também foi torturado e assassinado Carlos Antônio de Andrade, um dos chefes políticos do outro grupo (Cf. SANT’ANNA, 2012, pp. 52-55; pp. 59-69).
[19] Cf. SOUZA, Monsenhor Francisco Ignácio de. Memórias de Monsenhor Souza. In: Santuário de Trindade, Nº 47, 16/02/1924, p.3-4. Arquivo do IPEHBC.
[20] SILVA, Côn. José Trindade da Fonseca e. Nota datilografada. Arquivo do IPEHBC.
[21] Todos os dados a respeito da construção dessa Capela estão de acordo com o registro datilografado realizado pelo Côn. Trindade sobre a Paróquia de Catalão.
[22] CAMPOS, Maria das Dores. Catalão: Estudo Histórico e Geográfico. Goiânia: Tipografia e Editora Bandeirante, 1976, p. 113.
[23] CAMPOS, 1976, p. 113.
[24] Todos os dados a respeito da construção dessa Capela estão de acordo com o registro datilografado realizado pelo Côn. Trindade sobre a Paróquia de Catalão.
[25] CAMPOS, 1976, p. 113.
[26] Livro 3-C, Nº 1.447, fls. 11 do Registro de Imóveis Local. Arquivo da Paróquia Mãe de Deus.
[27] CAMPOS, 1976, p. 115.
[28] Arquivo da Paróquia Mãe de Deus.
[29] Jornal Brasil Central, Nº 146, de 15 de dezembro de 1937. Esse jornal traz o registro das duas provisões.
[30] PERES, Ramon. Carta a Dom Emmanuel Gomes de Oliveira. 2 de setembro de 1939. Arquivada entre os documentos do Côn. Trindade no IPEHBC.
[31] Os frades franciscanos americanos substituíram os padres agostinianos na Paróquia Mãe de Deus em Catalão após a sua retirada. Entre a saída dos agostinianos e chegada dos franciscanos a Paróquia esteve por um pequeno período entregue aos padres diocesanos. A saída dos agostinianos ocorreu devido ao duro golpe sofrido pela Ordem Agostiniana na Espanha com o regime comunista. Com a explosão da guerra civil espanhola, entre os anos de 1936 e 1939, houve uma verdadeira carnificina, com o triste saldo de um milhão de mortos. Muitos deles eram Padres e Freiras perseguidos pelo governo comunista da “Frente Popular das Forças da Esquerda Revolucionária”. A crueldade chegou a tal ponto que só da Ordem Agostiniana foram assassinados 198 Padres. Com essas graves perdas, tal foi a quantidade de Padres assassinados que não haviam Padres suficiente para repor os que estavam em missão. Ainda mais com a morte natural de alguns, como o Pe. Gabino Cabrera pároco de Ipameri e o Pe. Agostinho Camarzana pároco de Catalão, além de diversos outros nas demais localidades em que os Agostinianos trabalharam. De tal modo, no ano de 1940, a Ordem Agostiniana achou por bem dar por encerradas as suas atividades nas Paróquias de Ipameri e Catalão em Goiás, além das Paróquias de Torrinha, Itajubi, Taquaritinga e Jaboticabal em São Paulo. Tomaram a resolução de deixar a Diocese de Goiás em julho de 1940, em agosto deixaram a Paróquia de Ipameri, e em 25 de dezembro deixaram também Catalão.
[32] CAMPOS, 1976, p. 115.
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